As mulheres tem conquistado o mercado de trabalho, mesmo com uma série de dificuldades ainda impostas e se firma como empreendedoras e empresárias. Em Mato Grosso, elas representam 29% do total do universo de empresários. Um percentual bem próximo do que acontece mundialmente – cerca de 30% de todos os negócios privados do mundo são operados ou têm como idealizador uma mulher.
No Brasil, 43% dos donos de empresas são do sexo feminino, contra uma participação de 57% do sexo masculino. Do total de empresas ativas no país, 30% delas tem mulheres como sócias. Quanto ao porte, 59% das empreendedoras brasileiras estão na classificação de pequenas e médias empresas e 11% são sócias de grandes empresas. Do total das mulheres empreendedoras no Brasil, 73% são sócias de pequenas e médias empresas, mas se levarmos em consideração as empresas no formato MEI – Micro Empreendedor Individual, esse percentual sobe para 98,5%.
A empresária Maria das Dores Custódio, 48 anos, proprietária da Disk Lavanderia, em Várzea Grande, destaca que tradicionalmente a humanidade é machista. No mercado há 20 anos, ela reconhece que sua empresa, por ser administrada por uma mulher, tem menos credibilidade do que outras geridas por homens. “Quando entro numa disputa por algum cliente, muitas vezes acabo preterida por ser mulher”, conta. Por outro, lado, diz que tem muita gente querendo mudar tudo isso. “O que me ajudou bastante e me deu muita autoconfiança e credibilidade no mercado foi ter buscado o Sebrae, isso em 2006. Me tornei uma empresária mais segura. O microempresário tem que correr atrás. A busca por melhorias tem que ser constante”, enfatiza. Ela lembra que nos anos que precederam a Copa do Mundo de Futebol, orientada pelo Sebrae, começou a se preparar quatro anos antes do evento. “Me preparei, investi, ganhei dinheiro e ampliei meu posicionamento no mercado”, revela, satisfeita por adotar esse tipo de estratégia e nunca esmorecer.
No quadro atual de 20 funcionários, 10 são mulheres. “Sempre tivemos mais mulheres do que homens, até porque elas são mais zelosas, mais cuidadosas, detalhistas, mais ágeis, porém, hoje, temos uma parte maior da operação que exige força física e por isso foi preciso aumentar o percentual de homens no quadro de funcionários”, ressalta.
Força física não foi empecilho para a professora aposentada Lucileika Davi, 66 anos, moldar até seis quilos de barro no torno para fazer peças de cerâmica como cubas para lavatório. “É um trabalho que exige muita força física, o torno é tido como algo muito masculino, mas eu adoro o que faço”, confessa, acrescentando que muitas mulheres não querem mexer com o barro para não sujar as mãos, não quebrar as unhas. “Muitas vezes, não encontro pessoas para me ajudar, é muito difícil encontrar mão-de-obra”.
No mercado, ela também encontra barreiras. “As pessoas só dão valor ao trabalho quando veem as peças”. Hoje, ela comercializa seus produtos em pontos como a Casa do Artesão, em Cuiabá, e atende encomendas de vários restaurantes para compor o enxoval de louças. Ela faz pratos, bolws, xícaras, pires, bules, travessas e muitas outras peças utilitárias personalizadas. Além das formas, as cores das peças também são únicas. Lucileika faz suas próprias tintas a partir de elementos naturais do Cerrado, como a taboca, cinzas de folha de pequi e muito mais.
Ela reconhece que pelo fato de ser mulher imprime uma característica própria a suas peças. “Coloco toda uma sensibilidade, uma delicadeza nas peças”, avalia.
“Comecei esse trabalho há muitos anos com orientação do Sebrae num projeto de desenvolvimento do artesanato em Barra do Garças, onde moro. Foram várias consultorias e uma delas consistia em apresentar os produtos em lojas de Cuiabá. A partir daí não parei mais. Fiz cursos técnicos, me formalizei, investi em equipamentos e estou sempre me aprimorando”, conta orgulhosa.
Em 2013, ela foi selecionada pelo Programa de Artesanato Brasileiro, do Governo Federal, para uma exposição na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova Iorque, com mais 15 mulheres de todo o Brasil. “Foi uma experiência incrível e que marcou minha vida e meu trabalho”.
O Sebrae Mato Grosso segue o protocolo da ONU – definidos nos objetivos do milênio, no que diz respeito à busca de igualdade de gênero, pautando todo o trabalho da sustentabilidade, na prática.
Entre os funcionários, 50% são homens e 50% mulheres, com igualdade nas oportunidades de capacitação, ascensão na carreira, remuneração, liderança, expressão e decisão. E isso passa então ser um dos indicadores no Relatório Internacional de Sustentabilidade, GRI, o qual buscamos aperfeiçoar a cada ano.
“O Sebrae Mato Grosso tem como premissa a ambiência que favorece o envolvimento e o desenvolvimento da mulher profissional e isso pauta também todo nosso posicionamento estratégico de mercado. Ao adotarmos a sustentabilidade como um dos nossos pilares, temos nossas diretrizes e ações focadas nesta causa, que é a busca da igualdade de direitos plenos da mulher na sociedade, por meio dos pequenos negócios”, explicita Marta Torezam, gerente de Marketing, Comunicação e Eventos do Sebrae MT.
DADOS SOBRE EMPREENDEDORISMO FEMININO
• 43% dos donos de empresas no Brasil são do sexo feminino, contra uma participação de 57% do sexo masculino.
• Do total de empresas ativas no país, 30% delas tem mulheres como sócias.
• 59% das empreendedoras brasileiras estão na classificação de pequenas e médias empresas e 11% são sócias de grandes empresas.
• O perfil social mostra que estas mulheres em geral têm mais de trinta anos, um alto grau de escolaridade e elevado padrão de vida.
• Do total das mulheres empreendedoras no Brasil, 73% são sócias de pequenas e médias empresas, mas se levarmos em consideração as empresas no formato MEI – Micro Empreendedor Individual, esse percentual sobe para 98,5%.
• As diferenças regionais também ficaram bem evidentes na pesquisa. Segundo ela, existe uma forte concentração de mulheres empreendedoras nas regiões Sudeste e Sul.
• Na região Sudeste concentram-se 52,06% das empreendedoras brasileiras e 19% na região Sul.
• A região Nordeste conta com 16,53% das empreendedoras, seguida pela região Centro-Oeste, com 7,97% e em último lugar do ranking, a região Norte com apenas 4,4%.
OS DESAFIOS DA MULHER EMPREENDEDORA
Investimento desigual
Uma pesquisa realizada pelo instituto norte-americano GEDI mostrou que o número de mulheres empreendedoras que desejam crescer 50% e empregar, no mínimo, 10 funcionários nos próximos cinco anos cresceu 7% em uma escala global.
Atualmente, cerca de 30% de todos os negócios privados do mundo são operados ou têm como idealizador uma mulher.
Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 2% das empresas lideradas por mulheres geram mais de US$ 1 milhão em receitas anuais. E um estudo com empresas norte-americanas conseguiu identificar uma das causas: investimento desigual por parte de instituições financeiras.
Menos de 10% das empresas lideradas por mulheres recebe investimento externo. Estimativas demonstraram que, se essas mesmas organizações recebessem uma ajuda financeira igual às dos negócios dirigidos por homens, seis milhões de empregos seriam gerados em apenas cinco anos.
Desestímulo
Por mais que 70% dos líderes de negócios concordem que a diversidade de gênero melhora a performance da organização, o número de mulheres em cargos altos dentro de empresas cresceu apenas 5% (link em inglês) nos últimos quatro anos.
Mesmo com 80% dos empreendedores reconhecendo que muito ainda deve ser feito para que as mulheres sintam-se atraídas por cargos de liderança, apenas 13% acreditam que essas mudanças vão realmente sair do papel.
Esse desencorajamento no ambiente de trabalho é refletido em dados: 43% das mulheres veem o medo do fracasso como o principal empecilho para não abrir a própria empresa. Com os homens, a mesma taxa cai para 34%.
Estudos revelam que, nos primeiros anos depois de entrarem em uma empresa, cerca de 60% das mulheres apresenta uma vontade de subir de cargo, mas esse número cai pela metade à medida que os anos vão se passando e elas não têm suas habilidades reconhecidas.
Depois de aproximadamente cinco anos, as mesmas mulheres que desejavam ascender de cargo já se conformaram com a atual posição por acreditarem que não são capazes ou não têm as habilidades necessárias para conquistar promoções.
Educação desigual
Em diversas partes do mundo, aproximadamente 60 milhões de mulheres são privadas do direito ao estudo, e é no ambiente escolar que desenvolvemos habilidades pessoais, muitas das quais são de extrema utilidade para empreender.
Em uma pesquisa realizada na Austrália, 57% dos homens entrevistados declararam acreditar que tinham as habilidades e o conhecimento necessários para abrir um negócio, em comparação com 30% das mulheres.
A falta do ambiente escolar também se reflete no quesito de networking, uma vez que as mulheres têm uma probabilidade menor de conhecer pessoas que tenham aberto algum negócio. Essa realidade é comprovada por dados: 42% dos homens são mais propícios a conhecer alguém que tenha começado a empreender nos últimos dois anos, enquanto essa taxa baixa para 27% quando falamos sobre mulheres.
Sexismo
O sexismo, ou seja, a discriminação baseada nos estereótipos de gênero, é um fator que permeia a caminhada da mulher desde a contratação por uma empresa até a hora em que ela deseja abrir o próprio negócio.
Um estudo realizado nos Estados Unidos demonstrou que as mulheres eram mais contratadas pelas empresas que não pediam fotos nos currículos ou não sabiam o sexo da pessoa que estavam analisando.
Além disso, as mulheres ainda sofrem julgamentos desiguais em relação aos homens, que são considerados mais competentes em assuntos relacionados a negócios. Essa discriminação torna mais difícil para as mulheres encontrar um ambiente propício para o desenvolvimento dessas habilidades.
Esse cenário é ainda pior em setores como tecnologia e informática, nos quais a presença feminina é extremamente baixa. Uma pesquisa realizada em 2015 revelou que a participação de mulheres nesse setor caiu 19%, mesmo com os avanços tecnológicos dos últimos anos.
O ambiente que temos hoje pode não ser o mais propício para as mulheres que desejam empreender, mas uma notícia é boa: as mudanças necessárias para esse cenário podem começar com todos nós, dentro e fora das empresas.